

Metamorfose, obra de David Čierny, é a cabeça mecânica, em constante movimentação, de Franz Kafka. Ela é uma das atrações da cidade natal do autor, Praga (República Tcheca).
Franz Kafka (1883-1924) nasceu em um império... e faleceu quando os impérios sucumbiram, consumidos na devastação causada pela guerra. Mas ainda vivenciou toda a tensão que culminaria em um novo conflito, de proporções ainda maiores. As Grandes Guerras Mundiais, um período no qual há apenas um conflituoso hiato — onde a beligerância apenas se multiplicou em pequenas proporções por toda nova configuração da Europa —, deixaria marcas profundas nas pessoas, principalmente nos povos deste continente.
Neste cenário, que é um dos mais caóticos períodos da história da humanidade. Na rota de colisão das grandes potencias de sua época. Em uma região de acirradas disputas políticas e territoriais em meio a conflitantes questões étnicas e religiosas, é lá onde Kafka estava. Em meio a este turbilhão de acontecimentos, levou sua vida em Praga, parte do então Império Austro-húngaro, uma cidade medieval gótica que exerceria influência em sua vida e em sua obra.
O seu legado é fruto de uma vida no centro de grandes conflitos existenciais, refletidos graças ao seu sensível poder de observação somado a uma forma peculiar de interpretar as questões humanas.
Kafka continua influenciando gerações. Podemos então afirmar que o universo kafkiano nunca esteve tão atual.



Mas nós não focaremos em suas obras mais conhecidas, entre os
seus clássicos mais debatidos: O Processo e A Metamorfose, ambos
com abundantes comentários desde seus lançamentos. Estas duas
obras já receberam adaptações cinematográficas. Com O Processo,
inclusive, temos direção de Orson Welles, em 1962, e um Joseph K.
interpretado por Anthony Perkins, o ator consagrado por Psicose,
um dos maiores clássicos do cinema. Enquanto em A Metamorfose
temos duas versões intrigantes, uma produção alemã, de 1975, e
outra russa em 2002.
A produção literária de Franz Kafka é um relato cru do mundo que o cerca... um mundo angustiante, sufocante, claustrofóbico, e todo o tempo sob pressão. Temos um brilhante artista que faz um registro que parece ser uma produção de "ficção fantástica"... no entanto, este Kafka que faleceu jovem, aos 41 anos, no limiar da Segunda Guerra Mundial, conseguiu perceber de forma racional a monstruosidade na qual a sociedade da época estaria se transformando, com seus dogmas sociais e cegueira induzida pelos processos de burocracia. Temos o absurdo como algo bem aceito e convencionalizado como natural.
Mas nós vamos lançar luz sobre Na Colônia Penal, que completa o seu centenário de lançado este ano. Embora escrita em 1914, só foi publicada em 1919. Como tudo que foi externado pelo escritor, com esta obra não seria diferente... continua atual e tão assustadora quanto no momento em que foi apresentada ao público. Nele temos a análise do sistema regendo o direito sobre a vida e a morte. Uma análise ao desumano... as condições de tortura física e psicológica. Muito se fala em tortura, mas o que é visto como tortura por um lado pode ser visto de outro modo por outro. Assim ele quase prevê as ações dos regimes totalitários que controlaram o mundo e seus campos da morte... algo tomado como natural por sociedades inteiras e, até hoje em dia, justificado, ainda, por muitos que continuam vendo parcialmente tais condições.
Ler Kafka não é algo fácil... mas é por tocar em situações que incomodam que os seus textos atravessam os tempos. Então mergulhem na obra que mantém este escritor presente nas vidas de leitores ao longo dos anos, despertando reflexões e formando pessoas mais críticas.
Na Colônia Penal possui tradução de Modesto Carone, no catálogo da Companhia das Letras. Ele é uma autoridade quando se fala a respeito da obra de Franz Kafka.
Mais informações sobre o homenageado:
KAFKA MUSEUM
https://kafkamuseum.cz/en (em inglês)
THE FRANZ KAFKA SOCIETY

Casa em que Kafka nasceu atualmente é um pequeno museu reunindo fotografias do escritor e de sua família além da cidade de Praga em sua época.

Kafka faleceu por complicações causadas pela tuberculose. Passou seus últimos dias em um sanatório austríaco, mas foi sepultado em Praga no cemitério de Zizkov.


